sábado, março 03, 2007

O Olhar Dos Ciganos

Antigamente o olhar dos ciganos, era tido mais do que um elemento de sua aparência física; era como tendo uma dimensão transcendental.
Numa sociedade que transmitia seus saberes, tradicionalmente, por forma oral, o olhar é o ponto de partida para a compreensão entre as pessoas.
Além disso, era através dele que se confirmava um compromisso (negócios ou casamentos, por ex.) depois da palavra dada, olhando-se nos olhos do cliente ou do outro cigano.
O encontro e a revelação do outro se inicia com o olhar.
A presença do olhar cigano instaurava uma crise na identidade do não-cigano, acompanhada de perplexidade e medo.
Assim, o olhar cigano incomodava porque, ao mirarem, constrangiam os não-ciganos para não o devolverem.
Ao ser olhado pelo cigano, o indivíduo sentia-se "coisificado".
Em contrapartida, o cigano ao incidir seu olhar sobre o outro, rompia momentaneamente com a fronteira e a distância original, seu mundo também ficava à deriva.
Os ciganos foram, não se sabe a partir de quando, considerados como portadores de um olhar mágico e poderoso, capaz de lançar pragas e maldições.
Este olhar se caracterizaria não só pelo exotismo dos olhos com grandes pupilas, mas também por uma certa magia na forma de fixá-los.
No século XIX, tal imagem ganhou mais relevância graças ao movimento romântico.

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História dos Ciganos no Brasil

(...) À parte a complexa definição da identidade cigana, a documentação conhecida indica que sua história no Brasil iniciou em 1574, quando o cigano João Torres, sua mulher e filhos foram degregados para o Brasil. Em Minas Gerais, a presença cigana é nitidamente notada a partir de 1718, quando chegam ciganos vindos da Bahia, para onde haviam sido deportados de Portugal.
A documentação sobre ciganos é escassa e dispersa. Sendo ágrafos, os ciganos não deixaram registros escritos. Assim, raramente aparecendo nos documentos, aproximamo-nos deles indiretamente, através de mediadores, chefes de polícia, clérigos e viajantes, por exemplo. Nestes testemunhos, a informação sobre os ciganos é dada por intermédio de um olhar hostil, constrangedor e estrangeiro.
Os ciganos nas cidades mineiras estavam em dissonância aos ideais de civilização e progresso, tão marcantes deste período. São identificados como elementos incivilizáveis, inúteis à sociedade, supersticiosos, corruptores dos costumes, vândalos, enfim, uma anomalia social e racial. Uma vez vistos desta maneira, as autoridades tentavam controlá-los, no entanto, sem obterem grande eficácia. No final do século XIX e início do XX, ocorreu o ápice dos confrontos entre a polícia e os ciganos. Foram as "Correrias de ciganos" que, como veremos mais adiante, eram movimentações destes em fuga, por estarem sendo perseguidos pela polícia. Nestas correrias haviam freqüentes tiroteios, que resultaram em mortos de ambos os lados (...)
(...) Primeiramente, vejamos como o Padre Raphael Bluteau, autor do primeiro dicionário de Portugal, repercute as preocupações que a Igreja tinha com o comportamento considerado herege dos Ciganos, no início do século XVIII:
"Ciganos – Nome que o vulgo dá a uns homens vagabundos e embusteiros, que se fingem naturais do Egito e obrigados a peregrinar pelo mundo, sem assento nem domicílio permanente, como descendentes dos que não quiseram agasalhar o Divino Infante quando a Virgem Santíssima e S. José peregrinavam com ele pelo Egito."
Em 1798, a população escrava representa 48,7% do total populacional. Isto dá uma idéia da importância do mercado escravista no Brasil. Aproveitando-se do aquecimento econômico, atrelado ao estrondoso crescimento populacional vivido pela cidade do Rio de Janeiro, os ciganos, estabelecidos de forma concentrada no Campo de Santana, aproveitaram-se do espaço desocupado no mercado de escravos de segunda mão, que atendia a proprietários de plantéis menores.
Além dos mercados na rua do Valongo, os ciganos comerciaram escravos por várias partes do interior do país; em Minas Gerais, podemos confirmar que tiveram um papel importante nesse comércio. Isto proporcionou uma maior aceitação e mesmo valorização social dos ciganos, já que exerciam uma atividade reconhecida como útil por grande parte da população. Alguns ciganos tornaram-se ilustres, patrocinando até festividades na Corte. Esse momento sui generis da história cigana no Brasil coincidiu com a ascensão do movimento romântico na Europa que repercutia no Brasil, com a visão de que o cigano era a encarnação dos ideais da vida livre e integrada a natureza. Além disso, houve uma idealização da mulher cigana, agora não mais uma miserável e desonesta quiromante, mas uma mulher forte, sensual e, ainda que vingadora e passional, fascinante.
Em fins da década de 1820, viram esse breve momento de prestígio começar a ruir, com os movimentos políticos pela Independência. Somaram-se a isso, a partir de meados do oitocentos, os golpes fatais sobre o escravismo (1850, 1871 e que culminaram com 1888) (...)
(...) Nas últimas décadas, pesquisadores, ciganos ou não, consagraram a distinção dos ciganos, no Ocidente, em três grandes grupos. O grupo Rom, demograficamente majoritário, é o que está distribuído por um número maior de países. É dividido em vários subgrupos (natsia, literalmente, nação ou povo), com denominações próprias, como os Kalderash, Matchuara, Lovara e Tchurara. Teve sua história profundamente vinculada à Europa Central e aos Balcãs, de onde migraram a partir do século XIX para o leste da Europa e para a América. Muitas organizações ciganas e vários ciganólogos têm tentado substituir, no léxico, Ciganos por Rom. A este processo tem-se denominado romanização, e tem a intenção de conferir legitimidade a estes grupos como sendo o dos "verdadeiros ciganos." Há ainda, pelo menos, duas derivações dessa política. A primeira, a do subgrupo Kalderash, autoproclamada a mais "autêntica" e "nobre" entre as comunidades ciganas. A segunda é a do grupo lingüístico vlax romaní, considerado, por muitos pesquisadores, como portador da "verdadeira língua cigana".
(...) Os Sinti, também chamados Manouch, falam a língua sintó e são numericamente expressivos na Alemanha, Itália e França. No Brasil, nunca foi feita uma pesquisa apurada sobre sua presença. Provavelmente, os primeiros Sinti chegaram ao país também durante o século XIX, vindos dos mesmos países europeus já mencionados.
Os Calon, cuja língua é o caló, são ciganos que se diferenciaram culturalmente após um prolongado contato com os povos ibéricos. Da Península Ibérica, onde ainda são numerosos, migraram para outros países europeus e da América. Foi de Portugal que vieram para o Brasil, onde são o grupo mais numeroso. Embora os Calon tenham sido pouco estudados, acredita-se que não haja entre eles algo que se assemelhe à complexa subdivisão dos Rom.
Historicizar os ciganos nos remete a compreendê-los na sua pluralidade e no seu excepcionalismo. Há uma generalidade reducionista ao se chamar de ciganos indivíduos e/ou comunidades com diferenças significativas entre si. Precisa-se, assim, tomar cuidado ao denominar "cigana" a identidade de grupos que chegaram ao Brasil deportados de Portugal, desde o século XVI e, ao mesmo tempo, a identidade de famílias oriundas dos Balcãs e da Europa Central, que chegaram ao país no final do século XIX. Trata-se de uma enganosa generalização, sem dúvida, pois que o espaço e o tempo modificam sensivelmente a constituição desses "sujeitos.
Assim, um cigano Calon e um cigano Rom só possuem predicado idêntico no domínio da linguagem, quando emitimos proposições como: "Este Calon é cigano" ou "Aquele Rom é cigano". Mas a percepção atenta das singularidades nega, taxativamente, a suposta identidade dos nomes e dos predicados.
( Rodrigo Corrêa Teixeira)

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Por um Lugar ao Sol

“Se o povo roma (ciganos da Europa de Leste) exigisse um Estado, numa qualquer região da India (país de onde iniciaram a sua diáspora), seria sensato e lógico ceder a tal ambição?”
Pergunta o Carlos.
A primeira resposta que julgo ser adequada é em forma de outra pergunta: Porque o povo Roma não exige um Estado, numa qualquer região da Índia?
A resposta a esta segunda questão esclarecer-nos-á a primeira. Se o povo Roma não sente necessidade em voltar para a Índia, é porque talvez esteja melhor no Leste da Europa que estaria na União Indiana. Mas mesmo que sentisse vontade em voltar para a Índia, a pergunta a ser colocada seria, em que medida é que isso impediria o direito ao povo judeu de criar o seu Estado? Na verdade e a meu ver, a não concretização do direito de alguns não deve servir de argumento para a não realização do direito de outros. Não me parece correcto partir do princípio que se determinado grupo não consegue atingir os seus objectivos se deverá impedir a sua realização àqueles que têm condições para tal.
Ora, o que se passou com os Judeus é que, desde que foram expulsos daquela zona do Médio Oriente (onde se encontra actualmente Israel e – acredito – a futura Palestina), sempre quiseram para lá regressar. Quiseram-no na medida em que não a deixaram de sentir como sendo também a sua terra. Foi por esta razão que, logo a seguir à 2.ª Guerra Mundial, não aceitaram ir para o Uganda ou para Angola. Quiseram o Médio Oriente.
A meu ver, é esta a razão que confere toda a legitimidade à existência de Israel e impede que se fale de ocupação. Sucede que, a juntar a este argumento, surge um outro que é histórico. Uma perseguição que durou séculos. No fundo, o sempre os Judeus terem sido expulsos (quando não mortos) por não viverem na sua terra. Falo, naturalmente da Inquisição e do Holocausto. O Holocausto foi um golpe brutal, suficientemente brutal para dizer ‘basta’. Depois dessa carnificina, os Judeus, além da primeira razão (que apenas a eles os convencia) tiveram um argumento de peso para criarem um Estado Judaico: Um local onde jamais fossem perseguidos. Só com um Estado, com um exército (para Ben Gurion o exército era a base de Israel) haveria segurança, tranquilidade e um desenvolvimento harmonioso da sociedade judaica.
Por estas duas razões eu sempre fui favorável à existência de Israel e de um Israel Judaico. Foi esta luta ‘por um lugar ao sol’ que constantemente me fascinou e sempre admirei. Claro que a Palestina deve existir. Mas note-se que Israel nunca se opôs à Palestina. Desde sempre a aceitou como sua vizinha. O problema foi que os outros vizinhos árabes nunca quiseram Israel e logo à partida o atacaram. Ora, não é possível viver paredes meias com quem nos quer destruir.
Pelas razões que aqui expus, julgo que o problema Israelo-Palestiniano, não está na existência de Israel, mas sim na negação do seu direito enquanto Estado, por parte dos árabes. Logo, todas as duvidas que questionem a sua legitimidade pecam por acertarem ao lado do problema. Eu sei que é tentador estar do lado dos mais oprimidos, mas muitas vezes não chega.

(André Abrantes Amaral)

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Os Ciganos na Umbanda

São entidades que há pouco tempo ganharam força dentro do ritual de umbanda. Erroneamente no começo eram confundidos com entidades espirituais que vinham na linha dos Exus, tal confusão se dava pela apresentação de algumas ciganas se apresentarem como Cigana das Almas ou como Cigana do Cruzeiro ou coisa desse tipo.
Hoje o culto está mais difundido e se sabe e se conhece mais coisas sobre o povo cigano.
Não tem na Umbanda o seu alicerce espiritual; se apresentam também em rituais Kardecistas e em outros rituais do tipo mesa branca. Estão em Umbanda por uma necessidade lógica de trabalho e caridade. Encontraram em Umbanda o toque dos atabaques e passaram a se identificar com os toques e com os pontos a eles cantados.
Tal aproximação se deve ao fato da necessidade da adaptação ao culto que hoje mais se identificam e se apresentam. Povo muito rico de estórias e lendas, foram na maioria andarilhos que viveram nos séculos XIV, XV e XVI. Alguns presenciaram fatos históricos do tipo queda da bastilha na França antiga e destrono de reis famosos como Luís XV.
Vivem em grupos, e não tem destino nem caminho certo. São amantes das aventuras que tais situações podem trazer; erroneamente são confundidos com vagabundos e pessoas pouco dedicadas ao trabalho. Tem na sua origem o trabalho com a natureza, a subsistência através do que plantavam e o desapego as coisas materiais.
Dentro de Umbanda seus fundamentos são simples, não possuindo assentamentos ou ferramentas para centralização da força espiritual. São cultuados em geral com imagens bem simples, com taças de vinho, doces finos e cigarrilhas doces. Trabalham também com as energias do Oriente, com cristais, pedras energéticas e com os quatro sagrados elementos da natureza.
Tem em Santa Sarah de Kali as orientações necessárias para o bom andamento das missões espirituais. Não devemos confundir tal fato com Sincretismos, pois Santa Sarah é tida como orientadora espiritual e não como patrona ou imagem de algum sincretismo.
São comemorados no dia 24 de maio, dia de Santa Sarah.
Tem o Cigano Wladimir como um dos grandes chefes de tribo deste povo.
Sua saudação em Umbanda é ARRIBABÔ, ARRIBA!!!

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Ciganos Famosos

Poucos assumem-se ciganos.
Mas há muitos ciganos famosos.
O palhaço Carequinha, a cantora Rosana, o cantor Sidney Magal, o trapalhão Dedé Santana, o músico Zé Rodrix e, fora do Brasil, o poeta Federico García Lorca e até os astros hollywoodianos como Charles Chaplin e Rita Hayworth.
Nenhum citado assumiu-se cigano.
Nem o mais poderoso deles, Juscelino Kubitschek, que seria neto de ciganos europeus.
O historiador Rodrigo Corrêa Teixeira, da Uni-BH, e o antropólogo holandês Frans Moonen, afirmam que JK não só era cigano como chegou a ter encontros com comunidades mineiras.

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Um história difícil de resgatar

Não é simples precisar a origem exata do povo cigano, bem como sua história. Um dos maiores entraves é o fato de sua língua, o romani, ser ágrafa, ou seja, não tem versão escrita. Quase tudo o que se encontra sobre ciganos em livros, na internet ou se ouve deles próprios, é baseado na tradição oral. Diversas etnias são classificadas genericamente como ciganos (Rom, Sinto, Calon, etc). A tese mais aceita (Wikipedia, dicionários, artigos acadêmicos) é a de que tratam-se de grupos nômades, originários do norte da Índia. Sua língua, o romani, e suas variações são faladas por boa parte dos ciganos até hoje, e é passada de pai para filho. O idioma é semelhante ao de outras línguas indo-européias, como o Punjabi e Potohari, hoje faladas no norte do Paquistão.

Acredita-se que os ciganos tenham ido da Índia para o Oriente Médio há cerca de mil anos, e dali espalharam-se para a Europa. Hoje, apesar de disseminados pelo mundo, a maioria dos ciganos permanece no chamado velho continente, mas sempre como minoria étnica. Como praticam quiromancia e adivinhação, foram historicamente repudiados pela Igreja Católica e outras religiões cristãs. A partir daí, foi um passo para que sofressem perseguições, muitas vezes brutais, principalmente na Idade Média, na época das inquisições. Na Romênia, por exemplo, os escravos ciganos só foram libertados no século XIX.

Há diversas estimativas do número de ciganos no mundo ou na Europa. Diferentes fontes citam números entre 5 milhões e 15 milhões. Impossível determinar qual o correto, seja pelo fato de estarem muito espalhados, seja porque boa parte esconde sua identidade ou porque há, ainda, muitos ciganos vivendo sem qualquer registo.

Milhares deles emigraram para o continente americano. Portugal foi um dos países que deportou membros da comunidade para suas colônias, entre elas o Brasil. Estimativas da União Brasileira dos Ciganos falam em cerca de 800 mil ciganos e descendentes no nosso país, mas, novamente, é um número impreciso. Restam duas certezas: há muito mais ciganos por além dos que vemos na ruas, com suas roupas típicas. E sua cultura está, de fato, morrendo.

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