sexta-feira, março 28, 2008

O OLHAR CIGANO



Por: ASSÉDE PAIVA

Revisão: Acir Reis



Ver é transpor as barreiras da carne.
Hartis, o cigano, apud Pierre Derlon

“A multitude of copper vessels gleams on ceiling and wall like gypsy eyes in the firelight.”
The National Geographic Magazine, October, 1957, p.575.

Agora vamos tratar, em detalhes, desta inconfundível marca cigana: o seu olhar. Sabemos de outras qualidades exteriores destes nômades, mas não falamos de suas qualidades físicas/psíquicas intrínsecas e, dentre todas, sobressai o seu olhar que é como que uma impressão digital, indelével, inconfundível, intransferível. Os ciganos têm usos e costumes peculiares: Se nômades, usam roupas estampadas, tranças nos cabelos, dentes claros e alguns dourados. Têm moral especial sobre virgindade, amor aos filhos, respeito aos velhos, danças celebrando a vida, leitura de sortes etc. Se sedentários ou seminômades, trajam como nós, os não-ciganos. Variam esses detalhes de uma vista para outra, e entre autores que enfatizam ou minimizam certos estilos, comportamentos ou maneiras de ser desses nômades. Num ponto todos são concordes: o poder do olhar cigano. Sempre encontrei referências no mesmo sentido, qual seja um olhar de que não se esquece facilmente, um olhar que escrutina nossa alma, que desvenda nossos mais secretos pensamentos.


Aqueles que não concordarem com as traduções que fizemos ou mandamos fazer, poderão ler direto nos originais, que fizemos questão de transcrever. Solicitamos e agradecemos todas as sugestões que nos enviarem.


Eu digo: Não há nenhum olhar tão maravilhoso como o do cigano!


Pittard (1867-1962) atribuía-lhes [aos ciganos] um lugar extremamente honroso na estética humana. Encontram-se entre eles com freqüência homens muito escorreitos e mulheres muito belas. A sua tez ligeiramente trigueira, o cabelo de azeviche, o nariz direito e bem formado, os dentes brancos, os olhos castanhos muito abertos, de expressão ora viva, ora lânguida, a elegância em geral da sua postura e a harmonia dos seus movimentos colocam-nos bem acima de muitos povos europeus no que se refere à beleza física. Apud Angus Fraser. In História do povo cigano, p. 28.


Nossos artistas exponenciais cantam assim:


A cigana

(Roberto e Erasmo Carlos)



Na distância vi seu vulto desaparecer.
Nunca mais seu rosto eu pude vê.
Uma vez você apareceu na minha vida,
eu não percebi você de mim se aproximar.
Não sei de onde você veio e nem perguntei.
Talvez de alguma estrada que eu ainda
não passei
Seu olhar me disse tanta coisa num momento
parecia que podia ler meu pensamento.
E no seu sorriso mil segredos percebi.
Então nos seus mistérios de repente me perdi.
Minha mão você tomou nas mãos e conheceu
minha vida inteira e o seu encanto me envolveu
Toda minha história leu nas linhas que mostrei.
O que estava escrito e o meu amor eu lhe entreguei.
Hoje você anda por lugares que eu não sei.
Vive nos meus sonhos e nas lembranças que guardei.
Disse tanta coisa quando leu minha mão.
Você só não previu a minha solidão.



Outro poema do nosso cancioneiro popular:

Cigana feiticeira
seu feitiço me pegou,
a luz do seu olhar
tem tanto fogo e me queimou.
Pela primeira vez
que você leu a minha mão,
deixou uma fogueira
dentro do meu coração.

Cigana feiticeira
feiticeira, ai meu Deus!
Eu gasto tudo, tudo,
pelos carinhos seus.
Me diga só
que tenho de fazer
pra virar cigano
e morar com você.



Passaremos a dar alguns recortes de historiadores, escritores, romancistas, compositores, poetas, etnógrafos, antropólogos e outros pesquisadores/autores consagrados; iniciando com Grellmann3:


Their lively black rolling eyes, are, without dispute, properties which must be ranked among the lift of beauties, even by the modern civilized European world, p. 9.


[Seus olhos vívidos, negros, revirados são, sem contestação, únicos e devem ser classificados entre padrões de beleza, nivelados ao mundo moderno, europeu.]


George Borrow em Os ciganos (os zíngaros ou uma descrição dos ciganos de Espanha4), na Introdução, pp. 28 e 29, quando descreve três ciganos, assim expressa:


... the eyes large, overhung with long drooping lashes, giving them almost a melancholy expression, it was only when the lashes were elevated that the Gypsy glance was seen, if that can be called a glance which is a strange stare, like nothing else in this world.


[... os olhos grandes, movendo-se sob longas pestanas pendentes, que lhes emprestavam uma expressão quase melancólica; era somente quando as pestanas se elevavam que se via a mirada do cigano, se se pode chamar de mirada àquilo que é um olhar estranho, espantado, como nenhum outro no mundo.]


Mas é no capítulo V, pp. 278 e 279, que G. Borrow nos descreve, com maestria, o olhar cigano. Vamos transcrever o bastante:


There is something remarkable in the eye of the gitano: should his hair and complexion become fair as those of the Swede or the Finn, and his jockey gait as grave and ceremonious as that of the native of Old Castile, were he dressed like a king, a priest, or a warrior, still would the gitano be detected by his eye, should it continue unchanged. [...], the eye of the gitano is neither large nor small, and exhibits no marked difference in its shape from the eyes of the common cast. Its peculiarity consists chiefly in a strange staring expression, which to be understood must be seen, and in thin glaze, which steals over it when in repose, and seems to emit phosphoric light. That eye has sometimes a peculiar effect, we learn from the following stanza:


[Há qualquer coisa de extraordinário nos olhos do gitano: se o seu cabelo e a sua tez se tornasse tão loura como as do sueco ou do finlandês, e o seu ar de jóquei tão grave e cerimonioso como o do nativo de Castela-a-Velha, se ele se vestisse como um rei, um padre ou um guerreiro, ainda assim o gitano seria denunciado pelos seus olhos, se continuassem inalterados [....], os olhos do gitano não são grandes nem pequenos, e não revelam acentuadas diferenças, na sua forma, dos olhos dos outros homens. A sua peculiaridade consiste principalmente numa estranha expressão de fitar, que para se compreender, deve ser vista, e num leve vítreo que surge sobre eles, quando em repouso, e parece emitir luz fosfórica. Que os olhos dos ciganos têm algumas vezes um efeito peculiar, vê-se pela seguinte estância]:



A gypsy stripling’s glossy eye
Has pierced my bosom’s core,
A feat no eye beneath the sky
Could e’er effect before.

Os olhos resplandecentes de um cigano
Perfuram o âmago do meu peito,
Façanha que nenhum olho debaixo do céu
Poderia jamais ter efetuado.


O livro de Borrow (The Zincali) é extremamente cáustico com os ciganos. Entretanto, ele era fascinado pelo poder do olhar cigano e em várias páginas de livro fala sobre este poder. O autor só expressa admiração por estes nômades apenas nestas singularidades: O brilho do olhar; a fidelidade da mulher cigana ao seu rom; a virgindade; a ausência de prostituição de mulheres ciganas.


Ao apresentar o livro Magia cigana, de Charles Godfrey Leland (Bertrand do Brasil, p. XIII), Margery Silver fala dos profetas sombrios, de olhos selvagens.


O antropólogo e glotólogo Francisco Adolfo Coelho em seu livro Os ciganos em Portugal, à p. 192, reproduz notícia de um bando de nômades visto em Elvas, e que entre outras informações nos dá idéia do feitiço e da força do olhar cigano:


“As crianças usavam igualmente botas até ao joelho, mas pretas, e quase todas fumavam, de cachimbo. Havia algumas com feições regularíssimas, e os olhos de todos, negros e rasgados, faiscavam de brilhantes.”


Com a palavra o antropólogo Olímpio Nunes, in O povo cigano pp. 140-1:


O que impressiona em primeiro lugar num cigano é o seu olhar. Nem o vestuário, nem a tez, nem a língua e os costumes denunciam melhor o cigano do que os seus olhos e o olhar. Os olhos são escuros, sobretudo na mulher, e largamente fendidos. É impossível descrever o olhar. De Dumas, a Merimée, a Garcia Lorca, todos disseram verdade. O brilho do olhar é exaltado, sobretudo nas raparigas. É ao mesmo tempo inquieto, penetrante quando se fixa, móvel, constantemente espiando, pois é a arma mais preciosa do cigano, que lhe permite ver e prever. Reflete, ao mesmo tempo, a doçura e a selvageria, uma imensa bondade e uma crueldade sem limites. Um olhar sempre fugidio, mas apesar disso se fixa aqui e acolá, num certo instante. Um olhar triste e altivo, amoroso e duro. Um olhar cheio de paixão, mas duma paixão contida, retida entre as pálpebras que deixam passar um estilhaço metálico, magnético, saltando de olhos paradoxalmente enevoados, velados, coalhados como mortos.


Jacques Cazotte, no seu livro O diabo enamorado, à p. 89 registra ciganas de olhos fundos e ardentes, ou na tradução5 de Raimundo Magalhães Jr. ...olhos cavos e fulgurantes..., In Amores do diabo, p. 73.


Examinando o livro de Mello Moraes Filho6 (1834-1919) Os ciganos no Brasil e cancioneiro dos ciganos, à p. 68, encontramos:


Os ciganos primitivos eram todos bronzeados, mas de um bronzeado escuro e fixo; de olhos pretos, rasgados e penetrantes.


Também, no livro Quadros e crônicas , de Melo Morais lemos :


Como estrutura, como forma, esse povo é de uma beleza admirável. As ciganas, quando moças, são de formosura soberana: rosto oval, cabelos negros, olhos que brilham como estrelas polares do amor. A mediana estatura é-lhes a regra; são esbeltas e graciosas como as palmeiras da Ásia, a voz lhes plange na garganta como cavatina nos desertos.


Quando, porém, as flores dos verdes anos se fanam, a fealdade reflete-lhes velhice prematura, a pele se lhes enruga, os olhares perdem as fascinações ardentes, transformando-se elas em múmias, mas sem o lençol de perfumes dos embasamentos.


Os homens, altos e tisnados, de cabelos caracolados e barba pontuda, volvem os olhos cintilantes, sempre desconfiados e afoitos nas lutas do imprevisto.


D’Oliveira China7, em seu livro Os ciganos do Brasil, à p. 19, assim os descreve:


... os olhos são muito negros e vivos , e nas mulheres, justificam às vezes o que se diz do tom misterioso, alternativamente melancólico e alegre dos olhos das ciganas em geral...


E sumariando o tema à página 139, da mesma obra, diz que os ciganos, em geral têm os olhos muito negros; às vezes castanhos ou esverdeados e os ciganos do Brasil têm os olhos pretos, rasgados (vivos e penetrantes); garços; raramente azuis em alguns.


Charles Baudelaire, in Flores do mal [em A caravana dos ciganos]:


La tribu prophetique aux prunelles ardentes

Hier s’est mise en route, emportant ses petits
Sur son dos, ou livrant à leurs fiers appétits

Le trésor toujours prêt des mamelles pendants.


The prophetic tribe with burning eyes

Took the road yesterday, carrying the children

On its back, or giving to their fierce appetites

The ever ready treasure of pendent breasts.


[A tribo profética a das pupilas ardentes

Pôs-se a caminho, tendo às costas a ninhada
Ou saciando-lhe a altiva gula imoderada

com o farto tesouro das mamas pendentes.]


Mirian Stanescon — Rorarni8, Presidente da Fundação Santa Sara Kali, escreveu o livro Lila Romai (Cartas ciganas), o verdadeiro oráculo cigano, à p. 27 assim nos fala sobre o olho cigano:


Os ciganos dão muito valor aos seus olhos, porque eles lidam não só com a visão física, como também com a visão espiritual. Assim, quando o filho nasce, a mãe, até o sétimo dia, lava seus olhos com água e uma pitadinha de sal, diariamente. No caso das meninas, seus olhos são lavados apenas no sétimo dia, com água e sal, e depois com água e açúcar, pois sabemos que a arte divinatória é praticada principalmente pelas mulheres ciganas — DRABARIMÔS (leitura DA SORTE).


O escritor e Prêmio Nobel de Literatura, em 1999, Günter Grass (que doou metade de seu prêmio aos ciganos de Kosovo), assim se refere aos olhos ciganos:


[They] have the Evil Eye9 and that stunning beauty that makes us ugly to ourselves. Because their mere existence puts our values in question..]


[Eles} têm olhos feiticeiros e aquela estonteante beleza que nos torna feios. Porque sua mera existência põe nossos valores em questão.]


Os poetas louvam os olhos ciganos toda hora. Vamos registrar mais este exemplo, uma estrofe, retirada da poesia A cigana, de Alexandrina Scurtu:


De que tela surgiste, ave, sereia e flama,

toda feita de luz e carne? Os teus olhares,

nas olheiras de fogo, acendem a fagulha

do amor e da paixão, da febre e da saudade.


O Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marques também nos brinda com texto memorável, quando exalta a insuperável resistência do cigano Melquíades, em Cem anos de solidão10, à p. 11:


... a morte o seguia por todas as partes, farejando-lhe as calças, mas sem se decidir a dar o bote final. Era um fugitivo de quantas pragas e catástrofes haviam flagelado o gênero humano. Sobreviveu à pelagra na Pérsia, ao escorbuto no arquipélago da Malásia, à lepra em Alexandria, ao beribéri no Japão, à peste bubônica em Madagascar, ao terremoto na Sicília e a um naufrágio multitudinário no estreito de Magalhães. Aquele ser prodigioso, que dizia possuir as chaves de Nostradamus, era um homem lúgubre, envolto numa aura triste, com um olhar asiático que parecia conhecer o outro lado das coisas.


No celebérrimo romance Carmem, o genial arqueólogo e contista Prosper Merrimée11 (1803-1870) nos deleita com esta bela descrição dos olhos da cigana:


Seus olhos, em particular, tinham uma expressão ao mesmo tempo voluptuosa e selvagem, que jamais tornei a encontrar num olhar humano. Olho de cigana, olho de lobo, é um ditado espanhol que vem a calhar. Se não tendes tempo de ir ao Jardim das Plantas para estudar o olhar de um lobo, observe vosso gato quando espreita o pardal.


Era una belleza extraña y salvage, um rosro que al pronto extrañaba,no se podía olvidar. Sobre todo, los ojos tenían una expresíon voluptuosa y feroz a la vez que no he encontrado después en ninguna mirada humana. Ojo de gitano, ojo do lobo.


E no capítulo quarto da história de Carmem, Merrimée nos descreve bem os olhos dos ciganos:


Os caracteres físicos dos ciganos são mais fáceis de distinguir do que descrever e, assim que tenhamos visto um só, reconhecemos um indivíduo dessa raça em meio de uma multidão. A fisionomia, a expressão, eis o que sobretudo os distingue dos povos que habitam o mesmo país. Sua pele é morena, sempre mais escura do que aquela das populações com as quais convivem.[Falava dos ciganos da Espanha]. Daí vem o nome Calé, os negros, pelo qual eles se referem a si mesmos com freqüência. Seus olhos, ligeiramente oblíquos, bem talhados, muito negros, são sombreados por cílios longos e espessos. Só podemos comparar seu olhar com o do animal selvagem. A audácia e a timidez estão presentes ao mesmo tempo, e desse ponto de vista, seus olhos revelam muito bem o caráter da nação — astuciosos, insolentes, mas naturalmente tementes aos golpes...


Júlio Verne, em seu primoroso e espetacular livro de aventuras Miguel Strogoff, assim nos fala sobre uma cigana (p.71) e ressalta o seu olhar:


A seu lado, a cigana Sangarra, mulher de trinta anos, de pele morena, alta, bem lançada, olhos magníficos e cabelos dourados, estava em postura soberba.


Em outro parágrafo, à mesma página: “Estas ciganas têm os olhos de gato! Vêm bem no escuro e aquela poderia bem saber...”


Nosso Martins Fontes12 (1884-1937), no livro Sherazade, nos brinda com a inclusão do poema Canção gitana, em homenagem a Carmem [de Bizet] que, por ser mui belo, transcreve-mo-lo integralmente:




Eu sou a flor de Sevilha,

Rachel da terra do Sol!

no ouro da minha mantilha,

rubeja o fogo espanhol!


Quando as salas estão cheias,

nas verbenas do Alcazar,

concentro azougue nas veias

e vitríolo no olhar!


Danço a zambra, entre sorrisos,

quebrando os braços e os rins,

ao retintinir dos guizos,

tricolejar dos cequins!


A gambiarra ensandalada,

infanta e odalisca, eu sou

uma pantera assanhada,

que freima enfervorizou!


Goya, encarnando a luxúria,

fez a “Maja” granadi!

Só ele exprimiu a fúria,

que ardeja em meu frenesi!


Simulo uma labareda,

columbreando no salão,

longa víbora de seda,

a roxo-rei e zarcão!


E, esfuzilando, felina,

a rir e a gritar: — olé!

Minha peçonha assassina

enfeitiçou dom José!


Temperamento boêmio,

sendo agarena, talvez,

meu coração é irmão gêmeo

das gitanas do Xerez!


Há um nufar, que, um dia, no ano.

Um dia, apenas, reluz:

É assim o amor sevilhano,

é assim o beijo andaluz!


Repicando a castanhola,

minha estridência contém

arrogância de espanhola,

furor, de fera no harém!


São negros os meus cabelos,

como os meus olhos tafuis,

porém tão negros que, ao vê-los,

até parecem azuis!


Os cascavéis do pandeiro

estridulam, em destom,

num trastralastrás brejeiro,

ou surdo dongolodrom!


E, espaventando o exagero,

bela, bárbara, brutal,

fulveja meu desespero

na sarabanda infernal!


— Bravo! Que guapa y reguapa!

e, em delírio, um toureador

aos meus pés estende a capa,

embebedado de amor!


E, para que ele se zangue,

meu desprezo respondeu:

— Que culpa tem o meu sangue

de ser mais rubro que o teu?!


É volúvel, mas sincero,

meu coração de mulher:

A quem me quer, eu não quero.

Só quero a quem não me quer.




Nossos escritores vez por outra introduzem ciganos em suas estórias. Lemos em Machado de Assis (1839-1908), fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, este trecho de Dom Casmurro, que nos fala de Capitu e de seus olhos, mas com tonalidade preconceituosa:


Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada.


Na revista VEJA, de 30 de janeiro de 2008, ed. 2045, ano 41, n.4, lê-se à p. 32, interessante polêmica sobre os olhos de Capitu. Transcreve-se parte, em seqüência:

... a pergunta sobre os olhos da personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, encerra duas possibilidades de resposta. As alternativas eram que Capitu teria olhos de cigana, de ressaca ou de jabuticaba, e a resposta dada como correta era a segunda opção. “A alternativa B (ressaca) está correta, mas a A (olhos de cigana) também está”, diz Suzana, que tem mestrado em literatura da língua portuguesa, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Olhos de ressaca é a expressão pela qual os olhos de Capitu ficaram mais conhecidos, a expressão inclusive dá nome aos capítulos 32 e 123. Na ocasião mais importante em que a expressão é usada, insinua que os olhos de Capitu teriam a mesma força do mar em dias de ressaca, que arrasta para dentro sem possibilidade resistência. No entanto, no capítulo 25, os olhos dela são descritos como olhos de cigana: “A gente de Pádua não é de todo má. Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada [...]”. E no capitulo 148: “Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada.”


Polêmica à parte, por tudo que pesquisamos e escrevemos, acho que o emérito Machado queria que aqueles olhos fossem ao mesmo tempo de ressaca e de cigana.


Não podemos olvidar o grande Alexandre Dumas13, que no seu livro O salteador, assim descreve a cigana Giesta:


Seus cabelos, tão negros que chegavam a tomar, às vezes, o reflexo azulado da asa do corvo, emolduravam, cindo sobre os ombros, um rosto de um oval perfeito e de apurada dignidade. Grandes olhos azuis como pervincas, sombreados por cílios e sobrancelhas da cor dos cabelos, uma tez lisa e branca como leite, lábios frescos como cerejas, dentes que fariam inveja às pérolas, um pescoço cuja ondulação tinha a graça e a flexibilidade de um pescoço de cisne, braços um pouco longos, mas de forma perfeita, talhe flexível como o do junco mirando-se num lago, ou da palmeira balançando-se no oásis, pés cuja nudez permitia fossem admirados o pequeno tamanho e a elegância, tal era o conjunto físico da personagem sobre a qual nos permitimos chamar a atenção do leitor.


O musicólogo Sérgio Bittencourt Sampaio, membro da Academia Nacional de Música, diz que na canção do toureiro da ópera Carmem, de Bizet, ouve-se:


Et songe bien, oui

songe en combattant

qu’un oeil noir te regard

et que l’amour t’attend (Ato II)


[Pensa bem,

Pensa, ao combater,

Que um olhar negro te observa
E que o amor te aguarda.]


A jornalista Isabel Fonseca viajou no período de 1991-1995 com ciganos pela Europa Oriental, onde se encontra a maior população cigana (8milhões) e escreveu o livro Enterrem-me de pé, a longa viagem dos ciganos. Companhia das Letras,1996; à p. 223, falando desses nômades em Varsóvia nos diz ...Mesmo mantendo o tom plangente, numa desastrada mímica de seus objetivos, olham através ou adiante do doador em potencial. No parágrafo seguinte nos fala assim: ... que eram morenos, esguios, de olhos brilhantes...

E no não menos extraordinário romance O corcunda de Notre Dame14, de Victor Hugo15, lemos esta bela passagem (p.17) sobre a cigana Esmeralda, a heroína da história:


Como poderia ser humano aquele corpo moreno e esguio, que volteava ligeiro, conduzido por pés que pareciam ter asas? E aqueles olhos pretos, muito grandes, que lampejavam a cada volta, não eram sobrenaturais?


Na edição Ediouro, ano 2003, do livro de Victor Hugo, op. cit., à p. 73 lê-se: “Cada vez que essa figura radiante passava girando diante de alguém, seus grandes olhos negros lançavam um relâmpago”. E mais abaixo, na mesma página: “...seus cabelos negros, seus olhos como uma chama, era criatura sobrenatural”. E à p. 290 quando mestre Jacques (Procurador do rei no Tribunal da Igreja) conspirava com Cláudio Frollo (o arcediago de Notre Dame) para prender a cigana “...O processo está pronto; depressa se arranja tudo! Uma linda criatura, pela minha alma, essa dançarina! Os mais lindos olhos negros que já vi! Duas granadas16 do Egito!...” E ao longo das mais de quinhentas páginas de seu romance, Victor Hugo volta, várias vezes, a falar do olhar de Esmeralda. Curioso é que a cigana não era legítima filha-do-vento, pois fora raptada de uma família, em Paris, quando criancinha. Mas o romancista pôs nos olhos dela toda magia do olhar autenticamente cigano.


No imortal romance Por quem os sinos dobram, seu autor, Ernest Hemingway, no capítulo II, p. 16, nos apresenta um cigano como se segue:


— Não deixe isto muito próximo da gruta — disse o homem sentado, um rapaz de olhos azuis num rosto moreno, bonito tipo cigano. — Há fogo lá dentro.


Em A virgem e o cigano17, obra-prima de D. H. Lawrence, o olhar cigano aparece em dezenas de páginas. A heroína parece ter sido encantada, hipnotizada por ele. Vamos citar apenas esta passagem à p. 81:


Viu então o rosto do cigano; o nariz retilíneo, os lábios móveis e delgados, o olhar direto e significativo dos olhos negros, que pareciam feri-la num ponto oculto e vital, infalivelmente.


No cancioneiro popular, a magia dos olhos e do olhar cigano está presente em inúmeras canções. Encontramos mais de vinte que falam do tema. Citamos quatro exemplos:


I

Olhos negros, penetrantes...

onde o olhar toma a alma,

invade audacioso os pensamentos

emitindo desejos...

faz sentir na tez o calor ansioso do toque.

..............................................................

In cigano sedutor, de Yuri Gitano

II

Chegaste tímida, descalça e

com lascívia no andar

E dançaste e provocaste o meu desejo
e simulaste, insinuaste e dissimulaste

E súbito, olhaste no fundo de meus olhos e me desnudaste.

..................................................................

In Cigana, de José Eduardo Camargo


III


Foi num entardecer em Valência

quando seus olhos ciganos cruzaram os meus

Inquietos, fugazes, desesperados,

devassando minha alma.

.................................................

Foi num entardecer em Valência
que perdi minha alma.

Entre o negro e o profundo dos teus olhos
e o som da tua guitarra profana.


In Paixão Gitana, de Mhãinah


IV


Ela é bonita, seus cabelos muito negros

e seu corpo faz meu corpo delirar

O seu olhar desperta em mim uma vontade
de enlouquecer, de me perder, de me entregar.

......................................................

In Sandra Rosa Madalena, de Sidney Magal


James Wells, viajante inglês, que esteve no Brasil entre 1869 e 1886, escreveu um livro18 e registrou um batuque onde descreve um indivíduo aciganado da seguinte forma:


... um sujeito selvagem, com cara de cigano, belo, airoso como um Adónis, com os olhos de uma gazela, mas que contêm o fogo de um gato selvagem, um grande dançarino...


E em outra página do mesmo livro escreve: “...o cigano aparece só. Os cabelos cacheados e longos, o cavanhaque e o olhar longínquo e desconfiado compõem a estranha imagem do cigano”.


O reverendo Robert Walsh (1772-1852) transitou pelo Brasil em 1828 e 1829; escreveu o livro Notícias do Brasil, ele nos diz que os ciganos tinham olhos e cabelos negros...


Não esqueçamos de que o R. Walsh foi um dos mais preconceituosos escritores/viajantes que passaram pelo Brasil. Nós o citamos, de passagem, porque não temos preconceito como ele tinha, nem queremos ser como ele, que não poupou o povo cigano.


Sir Richard Francis Burton19 (1821-1890) dá a seguinte nota no rodapé de seu livro The Jew, the Gypsy and El Islam, p. 169:


Every observer has noticed the Gypsy eye, which films over, as it were, as soon as the owner becomes weary or ennuyé; it has also a remarkable “far-off” glance, as if looking over and beyond you. Borrow (The Zincali) describes it as a “strange stare like nothing else in this world”. And again he says that “a thin glaze steals over it in repose, and seems to emit phosphoric light.”


[Todo observador notou o olho cigano, que fica como se enevoado logo que o dono se torna enfastiado ou aborrecido; ele tem também um notável olhar distante, um lampejo como se procurasse no entorno e além de você. Borrow (The Zincali) descreve-o como uma “estranha fixidez, jamais vista neste mundo”. E de novo ele diz que “um fino embaçamento cobre-o em repouso, e parece emitir uma luz fosfórica”.]


Falando dos Jats, habitantes (nômades) do noroeste da Índia, provavelmente terra dos ciganos, Francis Burton assim expressa:


The Jats in appearance are a swarthy and uncomely race, dirty in extreme, long, gaunt, bony, and rarely, if ever, in good condition. Their beards are thin, and there is a curious (i.e. Gypsy-like) expression in their eyes.


[Os jats, na aparência são morenos trigueiros, Raça incomum, suja ao extremo, alta, esquálida, ossuda, notavelmente quase sempre em boa condição. As barbas são ralas e há uma curiosa (i. é. como cigana) expressão nos seus olhos.}


Edward Rice, na biografia de Burton, citado, nos dá importante contribuição sobre o tema olhar cigano. Vamos às páginas 136 e 137, do livro que ele escreveu sobre Burton:


A “curiosa expressão” que ele [Burton] viu nos olhos dos jats era o chamado “olhar cigano” que sempre intrigava Burton quando escrevia sobre os ciganos, pois sempre lhe diziam que ele próprio (Burton) tinha esse mesmo olhar.


E transcreve palavras de Burton, ipsis litteris:


O cigano asiático também tem aquela peculiar e indescritível aparência e expressão do olhar, que é tão desenvolvida nos roma [ciganos] do Marrocos e Espanha mourisca [...]: “um traço que, como sinal na testa do primeiro assassino, se imprime nessa raça estigmatizada por toda a terra e, uma vez visto, nunca mais é esquecido. O “Mau-olhado” não é o menor dos poderes que a superstição atribui a esse povo; e se há verdade na doutrina de super-sensibilidade, do magnetismo animal, não se pode enquadrar na imaginação um olhar tão bem calculado, tão intensa a força magnética20.


Mais tarde, Burton [livro de Rice], ao encontrar ciganos na Síria, sentiu-se novamente atraído pelo olhar.


Os longos cabelos ásperos e colados à cabeça, com a trança enrolada em espiral, os olhos bem castanhos, cuja mirada típica é inconfundível, os pomos proeminentes como os dos tártaros, e os lábios de formato irregular sugeriam origem e fisionomia hindu.


Os ciganos espanhóis [ainda no livro de Rice]


Conservam o olho característico. A forma é perfeita, e tem uma mirada especial à qual se atribui o poder de gerar grandes passions — um dos privilégios do olhar. Várias vezes notei sua fixidez e brilho, que cintila como luz fosforescente, clarão que em alguns olhos indica loucura. Também observei o olhar “ que parece fitar algo além de nós, e a alternância entre a mirada fixa e um embaçamento ou toldamento da pupila distante”


Após a morte de Burton, The Gypsy Lore Journal de janeiro de 1891, em seu obituário, observou:


A singular idiossincrasia freqüentemente notada por seus amigos — a peculiaridade de seus olhos. “Quando ele [o olhar] fita a pessoa”, disse alguém que o conhece bem, “ele atravessa e depois, se toldando, parece ver algo mais além”. Richard Burton é o único homem (não-cigano) com essa peculiaridade [...].


Elwood B. Trigg, em seu livro Gypsy & Demons Divinities, (Citadel Press, N. J., p. 35, assim nos fala:


The Gypsy’s eyes are normally darker and more brilliant than those of other peoples. Among some gypsies, however, this feature is even more intense than others. It requires little imagination to see how such individuals might be recognized as strangely different than others with a special power to work magic through the use of their eyes.


[Os olhos ciganos são normalmente mais escuros e mais brilhantes do que os das outras pessoas. Entre alguns ciganos, contudo, esta feição é mais intensa do que outras. Requer pouca imaginação para se ver como tais indivíduos podem reconhecê-los estranhamente diferentes do que outros, com especial poder de magia, através do uso de seus olhos.]


Clemente Cimorra, em Los Gitanos, à p. 6 nos fala: “la viva expresión de los ojos”... O autor nos informa à p. 44, livro citado:


Y. F. M. Pabanó que escribe en 1915 y de una manera material no há conocido más que a los gitanos de Andalucía, expresa: “Los ojos del hombre gitano, negros, vivos y penetrantes, poseen cierta peculiaridad que permite reconercerle al punto, sea cualquiera el disfraz com que se cubra; bajo el traje más ceremonioso, como si adopta la vestidura más sucia y harapienta, al instante se advierte la singular y profunda fijeza de su mirada. Podrá conocerse a primera vista el ojo pequeno del hebreo, las pupila obliqua del chino, o la rasgada e intensa del musulmán; pero el ojo del gitano, aunque regular y proporcionalmente igual a los de las demás castas europeas, se distingue em seguida por su fulgor; un fulgor extrano, que parece a luz del fósforo.


[Y. F. M. Pabanó que escreve, em 1915, e que de uma maneira concreta não conheceu outros ciganos além dos da Andaluzia, expressou: “Os olhos do homem cigano, negros, vivos e penetrantes, possuem certa peculiaridade que permite reconhecê-lo a tal ponto, independente de qualquer disfarce com que se esconde; seja o traje mais cerimonioso, ou se adota a veste mais suja e esfarrapada, num instante se percebe a singular e profunda fixidez de seu olhar. Pode-se conhecer à primeira vista o olho pequeno do judeu, a pupila oblíqua do chinês, ou a rasgada e intensa do muçulmano; mas o olho do cigano, embora regular e proporcionalmente igual aos das demais etnias européias, se distingue, em seguida, por seu fulgor; uma cintilação estranha que parece a luz do fósforo”].


Martin Block, em Moeurs et Coutumes Tziganes, pp. 67-68, traça excelente comentário sobre as singularidades do olhar dos gitanos:


C’est à son regard qu’on reconnaît le plus sûrement un tzigane. A défaut de tout autre particularité anthropologique, son oeil le trahit. Le language s’avoue impuissant à caractériser expréssement un tel regard. La science n’en a pas encore entrepis l’étude, et c’est dommage; elle laisse là libre carrière aux peintres et aux poètes Le regard rest pourtant, avec la démarche, un des meilleurs indices permettant d’attribuer à chaque individu telle ou telle origine ethnique. Il suffit de savoir l’observer.


Il y a dans les yeux du tzigane quelque chose d’inquiet, de mobile, qui peut devenir singulièrement perçant dés que le regard se pose sur point précis. La manière dont se répartit la lumière frappant ces yeux, joint à l’aspiration à se porter du dedans au dehors, à saisir l’objet que le regard reflèt, ne peut manquer de nous captiver, même si la pupille est colorée en bleu. Il semble presque qu’inconsciement s’imprime ainsi chez ces primitfs un je ne sais quoi venant de l’éternité, qu’ils nous ouvrent un aperçu sur l’au delà. Abîme pour nous insondable. Par les dimensions de sa surface lumineuse, par l’ardeur de son éclat, l’oeil du Tzigane laisse soupçonner la passion contenue mais intense qui unit à la bonté la cruauté, donne simultanément libre cours à l’amour et à la haine, accouple la douceur à la sauvagerie. Tout un monde s’est réfugié dans les regards du Tzigane, ou plus généralement des différents peuples primitifs restés en dehors de la civilisation européenne. On retrouve avec étonnement chez beaucoup de jolies femmes tziganes le même éclat exalté, presque effrayant, qui caractérise les peuples de l’Inde. Comparez les traits des Indiennes, tels que nous les font connaître tant d’illustrations, aux photographies de Tziganes [...] et vous ne pourrez qu’être frappés de l’analogie. L’oeil noir ou d’un brun châtain se détache sur un vaste fond blanc, dont ce contraste augmente encore la blancheur. La chevelure d’un noir poisseux et l’or ou l’argent des parures qui l’ornent ainsi que les oreilles semblant rivaliser d’éclat avec cette blancheur des yeux et des dents.


Em seqüência, a excelente tradução do texto supra, feita por Léa e Jessé Cortines Peixoto:


[É pelo seu olhar que se reconhece mais seguramente um cigano. À ausência de qualquer outra particularidade antropológica, seu olho o trai. A linguagem se reconhece impotente para caracterizar precisamente um tal olhar. A ciência ainda não empreendeu o estudo, e isto é lamentável; ela deixa aí inteira liberdade aos pintores e poetas. O olhar permanece portanto, neste caso, um dos melhores índices, permitindo atribuir a cada indivíduo tal ou qual origem étnica. É bastante saber observar.]


[Há nos olhos do cigano qualquer coisa de inquieto, de mobilidade, que pode se tornar singularmente penetrante, desde que o olhar se fixe sobre um ponto preciso. A maneira pela qual se reparte a luz brilhante desses olhos, associa à aspiração de transportar-se de dentro ou fora, para apoderar-se do objeto, que o olhar reflete, não pode deixar de nos cativar, mesmo se a pupila for colorida de azul. Parece quase que inconscientemente se imprime assim nestes primitivos um não sei que vindo da eternidade, que eles nos abrem uma percepção do mais além. Abismo para nós insondável. Pelas dimensões de sua superfície luminosa, pelo ardor do seu brilho, o olhar do cigano permite supor a paixão contida, porém, intensa, que une à ternura a crueldade, dá simultaneamente livre curso ao amor e ao ódio, une à doçura, a selvageria. Todo um mundo se refugia nos olhares do cigano, ou mais geralmente nos diferentes povos primitivos, remanescentes fora da civilização européia. Redescobre-se, com espanto, nas muito bonitas mulheres ciganas, o mesmo brilho exaltado, quase assustador, que caracteriza os povos da Índia. Compare os traços dos indianos tais como nos fazem conhecer tantas ilustrações ou fotografias de ciganos [....], e não poderemos nos surpreender da analogia. O olho preto ou castanho claro ou escuro, se destaca sobre um vasto fundo branco, cujo contraste aumenta ainda mais a brancura. A cabeleira de um preto engordurado e o ouro ou prata dos adereços que o ornam, também as orelhas, parecendo rivalizar o brilho com esta brancura dos olhos e dos dentes.]


Jules Bloch21 em seu livro Les Tsiganes, à p. 42, nos informa que o antropólogo M. Pittard, entre outras considerações diz que os ciganos têm:


Leur teint légèrement basané, leurs cheveux noirs de jais, leur nez droit bien construit, leurs dents blanches, leurs yeux bruns largement fendus, au regard vif ou langoureux, la souplesse générale de leur démarche, l’harmonie de leurs gestes, les placent, dans l’ordre physique, bien avant beaucoup de populations européennes... Les Tsiganes paraissent avoir une santé à tout épreuve...


[A tez ligeiramente bronzeada, seus cabelos negros como azeviche, nariz reto, bem feito, dentes brancos, olhos castanhos, amplamente rasgados; penetrantes ou voluptuosos, a flexibilidade geral de seu caminhar, a harmonia de seus gestos, o coloca, na ordem física, bem adiante de muitas populações européias... Os ciganos parecem ter uma saúde à toda prova...]


Em interessante monografia História dos ciganos no Brasil, ainda inédita, Rodrigo Corrêa Teixeira22 faz, em três parágrafos, digressões sobre o olhar cigano. Pedimos vênia para citar o primeiro e o último:


Quanto ao olhar dos ciganos, era tido mais do que um elemento de sua aparência física; era como tendo uma dimensão transcendental. Numa sociedade que transmitia seus saberes, tradicionalmente, por forma oral,, o olhar é o ponto de partida para a compreensão entre as pessoas. Além disso, era através dele que se confirmava um compromisso (negócios ou casamento, por ex.) depois da palavra dada, olhando-se nos olhos do cliente ou do outro cigano.


Os ciganos foram, não se sabe a partir de quando, considerados como portadores de um olhar mágico e poderoso, capaz de lançar pragas e maldições. Este olhar se caracterizaria não só pelo exotismo dos olhos com grandes pupilas, mas também por uma certa magia na forma de fixá-los. No século XIX, tal imagem ganhou mais relevância graças ao movimento romântico.


Lemos em Pierre Derlon (Tradições ocultas dos ciganos), à p. 27, o seguinte:


... Entre estas a faculdade do “olhar”; este pode servir a finalidades defensivas ou mesmo agressivas; entretanto, é freqüentemente utilizado pelos feiticeiros (kakus) para apaziguar ou incutir confiança no próximo.


Teófilo Gautier em Gitanos do Monte Sagrado nos dá esta mensagem, apud Jean-Paul Clébert (The gypsies, p. 92):


Their swarthy complexion brings out the clarity of their oriental eyes, which are tempered by I do not know what mysterious sadness, like the memory of an absent motherland and fallen grandeur.


[Sua pele trigueira realça o brilho dos seus olhos orientais, os quais são amenizados por um quê de misteriosa tristeza, como memória de uma pátria ausente e uma grandeza perdida].


Virgínia Woolf, em seu romance famoso Orlando, nos brinda com esta fantasia:


Estes catálogos de beleza juvenil não podem terminar sem a menção dos olhos e da testa! Ai de mim, que as pessoas raramente nascem sem estes atributos! pois, ao olharmos para Orlando parado junto à janela, temos de reconhecer que possuía olhos como violetas encharcadas, tão grandes que a água parecia chegar às bordas e alargá-los....


Observação do organizador desta coletânea: Orlando era, até à metade do livro, um jovem fidalgo e da metade em diante era moça, cigana, raptada, criada e educada por um conde inglês. Curiosamente, a história retrata duzentos anos.


Cristina da Costa Pereira23, em seu livro Povo cigano, à página 92, diz:


O olhar para o cigano é fundamental em suas mais diversas relações com as pessoas: amor, negócios, práticas místicas, etc. Eles consideram que o olhar nos olhos é a melhor maneira de se conhecer a pessoa com quem se está falando. Eles costumam dizer que a leitura do olhar é “conhecimento intuitivo que todos ciganos têm” [...]. Eis o que alguns ciganos falaram a respeito do olhar: “Como é que eu estou aqui, falando de minha vida, de meu povo, se te conheço tão pouco, quer dizer, em que me baseio para poder confiar no que você me diz, nas suas intenções em relação aos ciganos, no livro que você vai escrever sobre nós? Mas é que, na verdade eu já te conheço, porque eu olhei bem para você? Cigano lê no olho, moça.”


Pedro Paulo Serodio Garcia é padre. Escreveu o livro intitulado O padre cigano. Ele é um dedicado missionário que vive entre ciganos, perambulando de acampamento em acampamento, pregando a palavra de Deus, ensinando o Evangelho, sem proselitismo. Observa e respeita os costumes e usos dos ciganos. Não quer mudá-los quer conviver com eles, respeitando as diferenças, solidarizando, compreendendo, ajudando. Certa feita, em uma festa de batismo comunitário, nos relata o seguinte, à p. 73, do seu livro:


Durante as anotações [falava dos registros dos nomes dos que seriam batizados] percebi que um dos recém-chegados para a festa do Santo me olhava muito. Ele me acompanhava com dois grandes olhos negros, contemplava-me o seu coração, interrogando-me através do seu semblante: “Quem é você?” “Você sabe quem sou eu?”


Os ciganos olham muito. Mesmo quando os seus olhos estão voltados para outra direção, estão observando. Estando distraídos com alguma conversa ou negócio importante, alguém está de olho vivo. Mas aquele não me observava em função do grupo ou por alguma desconfiança. Era mais do que isso. Ele me contemplava. Olhava-me dele para ele.



Júlio Dantas (1876-1962), Escritor, jornalista, diplomata e político português escreveu emocionante peça teatral A Severa onde algumas vezes exaltou a beleza do olhar cigano através de suas personagens. Citamos duas passagens:


É a maior fadista cá da Mouraria! Quando canta, parece que a alma da gente vai atrás dela. Mas, sangue de cigana, braço peludo e lume no olho! Não é de quem quer; é de quem ela quer. (p. 15)


...é a mulher que me convém! Assim mesmo, em bruto, como nasceu, com o sol no fundo dos olhos e a alma na ponta dos dedos, a afiar o calão e a navalha, a rir com o sangue pelas toiradas, a chorar com o fado pelas vielas! (p. 28)


MEU TESTEMUNHO:


Conheci alguém que tinha o olhar cigano. Um homem de valor inconteste. Erudito, administrador, engenheiro competente, honestíssimo, humanista: Foi presidente do antigo IAPI, presidente do Clube de Engenharia, membro da Comissão que instituiu a siderurgia no Brasil, presidente do Conselho Nacional do Petróleo — CNP, Prefeito de Brasília, presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia — IBS, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN e membro da Alta Administração em muitas empresas estatais e privadas. Quando morreu, tinha como patrimônio um simples apartamento à rua Figueiredo de Magalhães, na cidade do Rio de Janeiro. Morreu pobre. Estalão de probidade. Este homem chamava-se Plínio Reis de Cantanhede24 Almeida. Um cavalheiro, um cérebro privilegiado. Descendente ou não de cigano, na verdade era um ser humano extraordinário, primus inter pares.


Agora, transcrevemos um parágrafo da excelente, sedutora e comovente história Mikaela (cigana), do escritor José Fleming, em Balaio de paiol: Ed. GREBAL (Grêmio Barramansense de Letras).


Um rosto moreno, meio encoberto por sedosos cabelos negros, que caindo sobre o ombro direito, cobriam um lado da face onde seus olhos, tão negros como os cabelos, luziam inquietos e observadores...


E com este frevo canção (Cigana fatal), dos irmãos Valença, apud Caarüra, iniciamos o fechamento deste caderno dedicado ao olhar do cigano:


Cigana, morrer é o menos

por teus encantos fatais:

Teus lábios são dois venenos,

teus olhos são dois punhais.


Ai, não sorria

desta paixão insana.

Nestes três dias,

me matarás, cigana.


Ah! Não resistimos e vamos transcrever, com adaptação nossa, trecho de um poemeto de Martins Fontes que nos diz assim:


Tudo que abrange o pensamento,

Do grão de areia ao firmamento,

O olhar “cigano” traduz!

Seus olhos são miraculosos!

Nos seus mistérios fabulosos,

A treva é luz!


Conclusão:


Pessoas comuns como este autor; poetas, artistas, contistas e romancistas tecem loas ao brilho, ao magnetismo, às chispas do olhar cigano. Seguem a mesma linha, etnógrafos, antropólogos, folcloristas e historiadores. Olhos que nos enfeitiçam, nos envolvem, nos amedrontam. Olhos profundos, hipnóticos, tristes, próximos e distantes. Misteriosos, rasgados, verdes, castanhos ou negros, feiticeiros doces, vibrantes, benéficos ou maléficos. Olhos de muito sofrimento, registros de lutas de dois mil anos de sobrevivência. Vamos, pois, nos render ao diamante, ao fascínio e à luz do olhar desses nômades, que vieram lá de longe, da Índia, nos encantar. E vamos definitivamente encerrar com a linda composição de Jimi Hendrix - Gypsy Eyes (tradução) Lyrics:


Olhos ciganos


Olhos ciganos

bem,descobri que fui hipnotizado,
amo seus olhos ciganos,

amo seus olhos ciganos
tudo bem!
hey! cigana
escalo minha árvore e fico e me aqueço no fogo
querendo descobrir onde neste mundo você está
e sabendo o tempo todo que você continua

rodando pelo país
você ainda pensa em mim?
oh! minha cigana
bem, eu fui até a estrada, o lugar onde você vive
aquele que se situa a milhão de milhas
sim, saí por aquela estrada em busca de seu

amor e de minha alma também
mas quando encontrá-la não vou deixá-la ir
lembro-me da primeira vez que a vi
as lágrimas em seus olhos pareciam que tentavam dizer
oh menino, você sabe que eu poderia amar você
mas primeiro devo trilhar meu caminho
hoje, dois homens estranhos brigaram até a

morte por mim
vou encontrá-lo lá na velha estrada velha
hey!
tenho procurado por tanto tempo e meus pés

me fizeram perder a batalha
andando pela estrada meus joelhos cansados
me jogaram fora do caminho, caí mas ouvi uma

voz doce chamar
minha olhos ciganos está vindo e serei salvo
oh estarei salvo
por que eu a amo tanto
disse eu te amo
hey!
te amo uh
Deus, eu te amo
hey!

FINIS





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1 Bacharel em Direito e Administrador. Autor de Organização de cooperativas de consumo (premiado no XX Congresso Brasileiro de Cooperativismo, em Brasília); Brumas da história do Brasil. RIHGB. no 417, out./dez. 2002; Possessão, São Paulo: Ícone Editora, 1995; O espírito milenar, Goiânia: Editora Paulo de Tarso, sd.

2 Famílias, grupos e subgrupos.

3 Heinrich Moritz Gottlieb Grellmann. In Dissertation on the Gypsies, London, 1787.

4 Este livro é um terrível libelo contra os ciganos. É um deboche que o autor tenha se intitulado ‘senhor cigano’ ou ‘cigano cavalheiro’ (Romano ray). Na verdade, ele detestava os ciganos. Mais um pregador (tal como Walsh) que não amava suas ovelhas.

5 O diabo existe? Tomo I Coletânea de R. Magalhães Jr. Artenova, 1973.

6 Poeta, folclorista, jornalista, memorialista, etnógrafo, historiador e médico. Referência em ciganologia.

7 Apud Francisco Adolfo Coelho, Os ciganos de Portugal, p. 181.

8 Princesa cigana, Kalderash. Escritora e advogada. É uma grande defensora da causa cigana.

9 Suposed power to harm people by look or glance [Suposto poder de causar dano pelo olhar ou lampejo]. Em Câmara Cascudo (Dicionário do folclore brasileiro) encontramos este verbete: mau-olhado —. “... A crença é universal e milenar. Mau-olhado, seca-pimenteira, malocchio, evil eye, bose blick, mau de ojo, fascínio, olho-grande, olho-grosso, etc., são outros sinônimos...”

10 Livraria José Olímpio, 15a ed. 1967.

11 LPM Pocket, v. 78, p. 30, São Paulo.

12 Foi membro da Academia Brasileira de Letras.

13 Escritor francês (1802-1870). Assinou mais de seiscentas obras entre contos, peças de teatro, dramas e romances: Os três mosqueteiros, Vinte anos depois; O visconde de Bragelone; Memórias de um médico; A dama de Monsoreau; Os quarenta e cinco; O homem da máscara de ferro; A boca do inferno; O conde de Monte Cristo etc.

14 Círculo do Livro: São Paulo. É edição condensada.

15 Escritor e poeta francês (1802-1885). Escreveu romances maravilhosos: Os miseráveis, Noventa e três, O homem que ri, Ian da Islândia, Trabalhadores do mar, Ruy Blas. É reconhecido como o escritor mais prestigioso do século.

16 Queria dizer que tinham muito brilho. Em outra edição a palavra é carbúnculo.

17 Círculo do livro: São Paulo.

18 Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil do Rio de Janeiro ao Maranhão. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995

19 Erudito, cientista, soldado, agente secreto, explorador, aventureiro, tradutor e escritor. Falava 29 línguas (inclusive o romani), além de inúmeros dialetos: Este fenômeno foi Sir Richard Francis Burton. Os excertos são de seu livro The Jew the Gypsy and El Islam. New York, 1898. Dizem que tinha ascendência cigana. Sua tumba tem o formato de uma tenda. Este aventureiro permaneceu no Brasil entre 1865-1869, como cônsul da Inglaterra, em Santos. Escreveu sobre o Brasil: Explorations of the highlands of the Brazil; with a full account of the gold and diamond mines.

20 Esta citação está, também, entre aspas no livro de Burton: “a feature which, like the brand on the forehead of the first murderer, stamps this marked race over the whole globe, and when once observed is never forgotten. The ‘evil Eye’ is not the least of the powers with which this people is superstitiously invested; and if there be any truth in the overstrained (?) doctrines of animal magnetism, one could not possibly frame to the imagination an eye so well calculated, so intense a magnetic force.”

21 Professor honorário do Colégio de França. Seu livro foi editado por Presses Universitaires de France, Paris, 1953.

22 Mestre em História e Geografia.

23 Escritora e professora de literatura.

24 Os “Cantanhede”, antepassados do dr. Plínio, teriam vindo para o Brasil, em 1718. Em Melo Morais Filho. (Os ciganos no Brasil e cancioneiro dos ciganos, p. 27).

Texto extraido de http://www.ciganosbrasil.com/

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